O visivel e invisivel da vida do Guarani

O curso aconteceu no segundo semestre de 2016, no Campus Guarulhos, e se constituiu como um espaço de diálogo em torno das experiências de indígenas Guarani dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, sendo ministrado inteiramente por pessoas dos povos Guarani Mbyá e Kaiowá que atuam como professores, cineastas e líderes políticos e espirituais em diferentes aldeias. Voltado tanto à comunidade acadêmica como ao público em geral – privilegiando a participação de professores do ensino fundamental, médio e superior – o curso teve como objetivo a criação de um espaço de troca e diálogo entre-saberes sob orientação dos professores Guarani. Foram cinco encontros ao longo de dois meses, nos quais os Guarani desenvolveram reflexões e propuseram práticas aos participantes. Nesse sentido, o foco do curso não foi apenas o ensino de conteúdos, mas sobretudo a experiência de novas formas vivenciadas, compartilhadas e sensíveis de ensino-aprendizagem.

Coordenação:  Valéria Macedo, Ilana Goldstein e Yanet Aguillera

Bolsista: Guilherme Torres

Local: Campus Guarulhos – Unifesp

Datas: às quintas-feiras, nos dias 15/09, 06/10, 20/10, 03/11 e 24/11, das 14h às 18h.

Participantes: foram preenchidas as 50 vagas, assim distribuídas: 20 discentes da Unifesp; 5 servidores da Unifesp; 15 professores do ensino básico, médio e superior; 10  pessoas da comunidade externa com diferentes ocupações.

ENCONTROS

  • 1) “Cantos e caminhadas entre aldeias e cidades” (15/09/2016)

Palestrantes Guarani: Eunice Augusto Martim, professora na Terra Indígena (TI) Jaraguá/SP; Jaciara Augusto Martim, assistente social na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai-SP) e moradora da TI Jaraguá; Joab Karai, professor na TI Jaraguá; Poty Poran T. Carlos, professora na TI Krukutu/SP.

As palestrantes e o palestrante descreveram sua experiência como indígenas em aldeias na cidade de São Paulo. Outro assunto bastante tematizado foi a educação escolar indígena, com ênfase para as lutas pelo direito a uma grade que priorize os conhecimentos tradicionais e se adeque à realidade da vida na aldeia. O encontro também versou sobre conhecimentos tradicionais dos Guarani, a exemplo da música e suas múltiplas dimensões. Foram apresentados instrumentos musicais e cantos tradicionais do povo Guarani, acompanhados de rabeca (rave’i) e violão (mbaraka). Na última parte do encontro, foi proposta uma experiência prática de canto e dança aos participantes e a confecção de adornos tradicionais.

Joab Eunice e Jaciara ministram o primeiro encontro do curso numa sala de aula do campus Guarulhos

Joab, Eunice e Jaciara ministram o primeiro encontro do curso, numa sala de aula do campus Guarulhos. Foto: Guilherme Torres, 15/09/2016.

 

Participantes do primeiro encontro

 Participantes do primeiro encontro. Foto: Guilherme Torres, 15/09/2016.

 

Exercício de dança tradicional Guarani no primeiro encontro

 Exercício de dança tradicional Guarani, no primeiro encontro. Foto: Guilherme Torres, 15/09/2016.

 

Prática de artesanato tradicional no primeiro encontro. Foto Guilherme Torres 15 09 2016

 Prática de artesanato tradicional no primeiro encontro. Foto: Guilherme Torres, 15/09/2016.

 

  • 2) “Corpos, imagens e transformações” (06/10/2016)

Palestrantes Guarani: Carlos Papa Guarani, cineasta e líder espiritual, e Cristine Takuá, professora da escola indígena na Terra Indígena Rio Silveira, entre os municípios de Bertioga e São Sebastião.

Ambos os palestrantes compartilharam aspectos da situação política dos direitos indígenas e aspectos filosóficos do pensamento Guarani, incluindo o relato de histórias dos tempos primordiais e costumes tradicionais. Foi enfatizada a importância do constante fortalecimento e circulação do teko porã (bem-viver) na vida das aldeias Guarani, como modo de dar sentido à existência e à luta de povos que tem sido historicamente privados de seus direitos. Por fim, foi exibido e debatido o filme “Manoá – A Lenda das Queixadas”, média-metragem que Carlos Papa atuou e produziu. Trata-se de uma história em que um homem descumpre o resguardo pelo nascimento de sua filha e vai caçar, sendo encantado pelas queixadas.

Valéria Macedo Carlos Papa e Cristine Takua no 2º encontro

Valéria Macedo, Carlos Papa e Cristine Takua no 2º encontro. Foto: Guilherme Torres, 06/10/2016.

 

Participantes no segundo encontro

Participantes no segundo encontro. Foto: Guilherme Torres, dia 06/10/2016.

 

Dança feminina Tangará no 2º encontro

Dança feminina Tangará no 2º encontro. Foto: Guilherme Torres, 06/10/2016.

 

  • 3) “Imagens e palavras que agem” (20/10/2016)

Palestrante Guarani: Alberto Álvares Tupã Ra’y, cineasta Guarani-Kaiowá residente na aldeia de Japorã, em Mato Grosso do Sul.

O palestrante apresentou seu trabalho como cineasta e produtor audiovisual. Alberto falou da importância do registro e divulgação da vida tradicional nas aldeias e da inserção das tecnologias e redes sociais na vida cotidiana dos povos indígenas. Após apresentar alguns de seus filmes, aconteceu um debate com os participantes sobre o trabalho de filmar cerimônias tradicionais e a circulação das imagens registradas. Alberto ainda compartilhou com o grupo certos aspectos da cultura e da língua Guarani-Kaiowá, ressaltando a troca que acontece entre diferentes populações Guarani por meio da circulação de parentes entre as diferentes aldeias.

Roda de conversa do terceiro encontro com Alberto Álvares de costas no 1º plano 

Roda de conversa do terceiro encontro, com Alberto Álvares de costas no 1º plano. Foto: Guilherme Torres, 20/10/2016.

 

Exibição de filme no terceiro encontro

Exibição de filme no terceiro encontro. Foto: Guilherme Torres, 20/10/2016.

 4) “Fazendo objetos e conhecimentos” (03/11/2016)

Palestrantes Guarani: Elias Honório Vera Mirῖ, líder espiritual e cacique na TI Tendonde Porã/SP, e Giselda Jera Poty Mirῖ, liderança na aldeia Kalipety/SP.

A alimentação tradicional Guarani e a importância da terra foram dos principais temas desse encontro. Jera relatou como as retomadas de territórios tradicionais na Zona Sul da cidade, entre elas a aldeia Kalipety, têm possibilitado o resgate das práticas de plantio e cultivo de alimentos tradicionais. No encontro, foi apresentada uma diversidade de cultivos tradicionais Guarani que estão ameaçados pela hegemonia da indústria alimentícia dos jurua (não-indígenas). Os palestrantes compartilharam registros dos mutirões de plantio que têm sido feitos nas aldeias e ainda levou sementes dos diversos tipos de milhos tradicionais Guarani. Jera falou ainda de seu trabalho como professora na escola indígena da aldeia e da necessidade de adequação da grade escolar aos saberes tradicionais e suas formas de transmissão. Na parte final do encontro, Elias e Jera fizeram uma oficina de artesanato tradicional. Os participantes confeccionaram colares e adornos e ainda aprenderam a esculpir na madeira, acompanhando Elias no trabalho de confecção de animais da Mata Atlântica.

Jera falando do resgate da alimentação tradicional Guarani no quarto encontro

Jera falando do resgate da alimentação tradicional Guarani, no quarto encontro. Foto: Guilherme Torres, 3/11/2016.

 

4.2 Elias e Jera apresentam artesanato e sementes tradicionais no quarto encontro. Foto Guilherme Torres 3 11 2016

4.2 - Elias e Jera apresentam artesanato e sementes tradicionais no quarto encontro. Foto: Guilherme Torres, 3/11/2016.

 

4.3 Apresentação de sementes tradicionais Guarani no quarto encontro

4.3 - Apresentação de sementes tradicionais Guarani no quarto encontro. Foto: Guilherme Torres, 3/11/2016.

 

  • 5) “O invisível no cinema e na casa de reza” (24/11/206)

Palestrantes Guarani: Sergio Karai Tataendy, líder espiritual na TI Rio Silveir, e Alexandre Wera, cineasta e morador da aldeia Itaoca (em Mongaguá).

Neste último encontro do curso, Sergio Karai compartilhou experiências e reflexões sobre os conhecimentos tradicionais e sobre o encontro e a convivência com o mundo dos jurua. Ele discorreu sobre a posição de líder espiritual na aldeia e sobre os rituais de nomeação das crianças e celebração da erva mate. Já Alexandre Wera falou de sua atuação como professor na aldeia e apresentou seu trabalho de cineasta em diferentes aldeias Guarani. Foi apresentado um dos vídeos de Wera chamado “O dono da lontra”, em que ele filmou as angústias de um jovem caçador por esse animal ter caído em sua armadilha. Na parte final do encontro, houve a apresentação do coral Guarani liderado por Sérgio, contando com a participação dos alunos do curso.

Alexandre Wera e Sergio Karai no quinto encontro 

Alexandre Wera e Sergio Karai no quinto encontro. Foto: Guilherme Torres, 24/11/2016.

 

 Participantes do quinto encontro no auditório do campus Guarulhos

Participantes do quinto encontro, no auditório do campus Guarulhos. Foto: Guilherme Torres, 24/11/2016.

 

Apresentação do coral Guarani da Aldeia Rio Silveira

Apresentação do coral Guarani da Aldeia Rio Silveira. Foto: Guilherme Torres, 24/11/2016.

 

Público na apresentação do coral Guarani no pátio do campus Guarulhos

Público na apresentação do coral Guarani, no pátio do campus Guarulhos. Foto: Guilherme Torres, dia 24/11/2016.

 

Roda de canto e dança na apresentação do coral Guarani no pátio do campus Guarulhos

Roda de canto e dança na apresentação do coral Guarani, no pátio do campus Guarulhos. Foto: Guilherme Torres, dia 24/11/2016.